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26/04/2007 - 19h35

Entrevista: Microsoft faz balanço sobre o Xbox 360 no Brasil

THÉO AZEVEDO
Da Redação

Divulgação

Beck: 'No Brasil, gostaríamos de competir com Sony e Nintendo como acontece em outros países'

Beck: 'No Brasil, gostaríamos de competir com Sony e Nintendo como acontece em outros países'

O lançamento do Xbox 360 no Brasil foi o acontecimento mais importante do mercado brasileiro de games em anos. Mesmo com altíssima carga tributária e os índices alarmantes de pirataria, a Microsoft colocou nas prateleiras do país o seu console de nova geração e, passados cinco meses desde então, o cenário está longe do ideal, mas já é melhor do que antes.

O UOL conversou com Milton Beck, diretor da divisão de jogos e entretenimento da Microsoft Brasil, e com Guilherme Camargo, gerente de marketing para o Xbox 360 que assumiu o cargo recentemente. Em pauta, um balanço dos primeiros meses de "vida oficial" do console no país, além de perspectivas para o futuro.

Entre os tópicos, estão o lançamento da Xbox Live, garantia para os "aparelhos estrangeiros", novas produtoras terceirizadas no Brasil, "Halo 3", o defeito das três luzes vermelhas, expansão do número de revendas etc. Confira:

Seis meses após o lançamento do Xbox 360 no Brasil, como você avalia a receptividade ao "console nacional"?

Milton Beck:
A Microsoft lançou o Xbox 360 no Brasil com uma estratégia a longo prazo. Algumas áreas estão de acordo com plano: o console está vendendo o que tem que vender, mesmo com a enorme concorrência do mercado paralelo. Agora, em relação aos jogos, estamos acima dos planos: a resposta do consumidor brasileiro aos games lançados, ao preço, à disponibilidade nas lojas e ao prazo mais curto em relação ao lançamento internacional, foi muito benéfica.

A venda de jogos acima dos planos, é claro, tem a ver com os consoles vendidos no mercado paralelo: em várias situações, foram vendidos mais games que consoles. Então, até em função do lançamento dos nossos concorrentes e de como eles se posicionaram, eu acho que o Xbox 360 está indo bem mundialmente, e isso se reflete no Brasil.

Nós já alcançamos o "ponto ótimo"? Eu acho que não. Ainda não temos uma lista completa de periféricos para colocar nas lojas, a quantidade jogos lançada no país ainda não é a total e ainda existem pontos do país onde não é possível encontrar o Xbox 360. Há muito ainda o que evoluir e nós sabemos o caminho a seguir.

O mercado está muito melhor agora que antes de 1º de dezembro e eu vou lhe explicar a razão: antes, você ia às lojas e não sabia se teriam o console ou os jogos, que eram lançados no Brasil com defasagem de tempo. Tirando os "hardcore gamers", que sabem muito bem o que estão comprando, tem uma parcela grande do consumidor que não é especialista em games, não sabe exatamente o que está adquirindo e qual o conteúdo dos games - se tem cenas de sexo ou violência. Hoje, todos os nossos jogos têm a classificação do Ministério da Justiça e a imprensa tem um acesso muito mais fácil a eles.

A quantidade de empresas que podem entrar no Brasil e lançar seus jogos está aumentando pelo fato de a Microsoft ter tirado o chapéu e dito: "nós estamos no país". É um estímulo para que mais "third-parties", que até um tempo atrás estavam saindo do país, comecem a reforçar a sua atuação no país diretamente ou através de parceiros.

A venda de consoles no mercado paralelo, embora nociva ao plano de negócios da Microsoft no Brasil, não serve para aumentar a base instalada?

Beck:
Tudo que é não-oficial não é benéfico, porque você mina o modelo de negócios dos varejistas, da distribuição e tem menos dinheiro sendo reconhecido no país. Pelo lado do consumidor, muitas vezes ele não sabe direito o que está comprando; às vezes, a região do DVD é diferente ou ele tem um produto sem suporte, que não passou pelas devidas certificações. Em relação a aumentar a base instalada, não seria necessário nem o Xbox 360 estar no país, pois tudo ia continuar acontecendo como antes de 1º de dezembro.

Qual foi o jogo mais vendido no Brasil até agora?

Beck:
"Gears of War". Em segundo lugar, "Viva Piñata", que nos surpreendeu porque imaginávamos que era um jogo voltado às crianças, e vendeu muito bem entre os "hardcore gamers".

Por enquanto, não existe um padrão para a chegada de jogos terceirizados - os games da EA, por exemplo, são mais caros, enquanto os títulos prometidos pela Vivendi Games nem deram as caras por aqui ainda. Como a Microsoft está acompanhando este processo?

Beck:
Normalmente, estas empresas lançam jogos para várias plataformas. Por outro lado, o que interessa para nós é aumentar o porfólio de games para o Xbox 360. Todas as empresas que têm interesse em vir para cá e entram em contato conosco, tentamos apoiar o máximo possível.

Eu acho que a partir do segundo semestre, perto do Natal, vai haver uma entrada mais formal de outras empresas. O que eu sei é que tem mais empresas vindo, não apenas "publishers", mas distribuidores que vão entrar mais forte no país para trazer mais jogos e produtos relacionados a videogames.

Você pode falar quais são estas empresas?

Beck:
Eu não quero falar porque, como não é a Microsoft, não sei que tipo de anúncio eles querem fazer ou mesmo se é segredo ou não. Não quero estragar o plano de lançamento de ninguém, mas posso dizer que são as empresas tradicionais.

E sobre a carga tributária, alguma novidade?

Beck:
Nada. A carga tributária é alta e não só a Microsoft como todas as empresas que trabalham neste segmento, sob a representação da Abes [Associação Brasileira das Empresas de Software], entendem que uma redução seria benéfica, pois com o aumento das vendas a arrecadação do país seria maior e diminuiria as vantagens do mercado ilegal. A carga tributária muito alta gera um efeito contrário, pois estimula a entrada de produtos que não pagam. É claro que isso influencia no nosso modelo de negócios, pois volumes menores dificultam o lançamento de certos tipos de produtos ou a localização. Tudo é menor.

Por que a Xbox Live não foi lançada no Brasil até agora? Há novidades sobre este assunto?

Beck:
Normalmente, nos países onde o Xbox 360 está presente, lança-se o console primeiro e a Xbox Live depois. O que eu posso lhe falar é que continua forte em nossos planos o lançamento da Live e o que eu não posso falar é a data de lançamento, se será em 2007 ou 2008.

Certo, mas por que a demora no lançamento?

Beck:
É um lançamento complexo. Nós sabemos que uma grande quantidade de pessoas já usa a Live de alguma maneira no Brasil e gostaríamos de tornar a vida delas mais fácil. Mas há complicações quanto a oferecer toda a infra-estrutura: suporte, manutenção, atualização, pagamento, "billing" (fatura), cobrança e, como todo serviço, a Live tem que se adequar à legislação brasileira.

E o conteúdo em vídeo (filmes e seriados), como funcionaria no Brasil?

Beck:
Olha, deixa eu explicar como funciona: tem o lado técnico e o lado dos direitos autorais e de distribuição. O fato de ter a Live no Brasil não significa que aqueles vídeos vão estar disponíveis, pois depende de como e em quais mercados aquele conteúdo foi licenciado. A Live deve ter o principal, ou seja, jogar online e baixar os arquivos de jogos, que é o básico; os vídeos dependem dos direitos de distribuição, pois às vezes determinados produtos não podem ser distribuídos em certas regiões.

O que muda com a chegada do Guilherme Camargo, gerente de marketing do Xbox 360 no Brasil?

Beck:
Obviamente, o Guilherme não é o único cara que trabalha com Xbox 360 no Brasil; são "n" pessoas envolvidas, mas é talvez alguém que, hoje, mais traga a visão do consumidor para a Microsoft. Além de fazer todo o trabalho de gerenciamento de produtos, de marketing, novas campanhas etc., ele funciona muito bem como uma espécie de "ombudsman", com uma visão sobre o que deve ser melhorado, como se fosse um usuário final.

Guilherme Camargo: A primeira etapa do lançamento foi focada no console e agora a gente entra numa fase centralizada nos games e periféricos, como "Halo 3", que é o nosso grande lançamento para este ano. Em relação ao videogame, vamos fazer uma manutenção do trabalho, talvez com parcerias, já que hoje o Xbox 360 é muito mais conhecido no Brasil se comparado à antes de 1º de dezembro, quando o PlayStation 2 era o "top of mind".

Foto: Nelson Alves Jr.
Nelson
Camargo: 'Hoje, são 70 lojas físicas que vendem o Xbox 360, número que estamos expandindo para 500, em todas as regiões do Brasil'
O modelo Elite vai ser vendido por aqui?

Beck:
Não.

Os consoles, por assim dizer, "estrangeiros", não têm garantia fornecida pela Microsoft do Brasil - há casos em que é preciso enviar o aparelho para exterior para o conserto. Por que não estender a garantia nacional para estes aparelhos?

Beck:
Esse tipo de situação acontece com a maioria dos produtos que vêm de fora, pois eles não passaram pelas fases de certificação para o mercado brasileiro. Neste caso, atualmente, se o consumidor adquiriu o Xbox 360 nos últimos doze meses e o aparelho quebrou, provavelmente está sob garantia no mercado norte-americano. O consumidor vai ligar para o nosso suporte no Brasil e receber todas as informações sobre como proceder, e provavelmente o serviço será gratuito. Mas tem o inconveniente do código de unidade do produto estar vendido com garantia no mercado norte-americano.

Infelizmente, hoje há o transtorno de ter que levar o produto para fora do país. Gostaríamos de ter um modelo no qual pudéssemos atender também o consumidor que comprou o produto lá fora, nem que fosse pago. Como a Microsoft do Brasil está preparada para as vendas oficiais no país, não é tão simples criar uma estrutura de suporte, garantia, peças de reposição e de manutenção para uma base que você nem sabe qual é, desde pessoas que compraram no exterior até gente no Brasil que comprou por meios não-oficiais.

A Microsoft tem combatido a venda dos consoles contrabandeados no Brasil? Como está funcionando este processo?

Beck:
A Microsoft atua por vários caminhos: o primeiro é aumentar a disponibilidade do console nos canais tradicionais. Em relação à ilegalidade, se o cara trabalha hoje com produtos vendidos a um preço menor que o nosso, é porque não é o modelo oficial, até porque isso não é possível. De qualquer maneira, não é possível hoje vender por um preço menor, pelo menos com a legislação atual.

Nós queremos que o consumidor saiba que existe o produto oficial, com suporte, jogos e periférico. O que a gente não gosta é que tenha um canal que se aproveite do marketing, que canibalize quem está trabalhando de modo oficial, pagando os impostos devidos.

A pirataria do Xbox 360 já está rolando solta no país. Este é um obstáculo para a atuação da Microsoft?

Beck:
É igual ao PC: pirataria vem de anos e nunca fez com que saíssemos do mercado. Fazemos o que é possível: lançamos com o preço mais baixo, mais próximo à data de lançamento norte-americano e com o maior índice de localização possível. Nós queremos que as entidades competentes atuem para impedir que o nosso produto seja comercializado e puna quem falsifica o nosso produto.

E sobre os planos de aumentar o número de revendas do Xbox 360?

Camargo: Hoje, são 70 lojas físicas que vendem o Xbox 360, número que estamos expandindo para 500, em todas as regiões do Brasil.

Beck: Eu diria que hoje ninguém vai deixar de ter o produto no Brasil querendo comprar. As lojas online entregam em qualquer lugar, mas o que estamos tentando fazer é que o consumidor possa ter a experimentação mais perto.

As três edições de "Halo 3" serão comercializadas no país. Quais serão os preços?

Beck:
Não tem preço definido ainda.

Por que? No exterior, o preço dos jogos já foi definido.

Camargo:
Ainda temos algumas reuniões para fazer com o pessoal de fora, em "conference calls" para definir volumes e, aí sim, o preço. A única certeza é que as três versões serão comercializadas, de forma integral.

Crédito
Xbox Live está a caminho do Brasil, e pode chegar ainda em 2007
Crédito
Beck promete novidades para o lançamento de 'Halo 3' no país
"Viva Piñata" foi lançado totalmente em português, mas depois não houve mais nenhum jogo com legendas ou tradução em nosso idioma. Há planos para futuros lançamentos?

Beck:
A localização para nós é muito complexa. A Irlanda do Norte é o pólo centralizador da localização na Microsoft: todo o trabalho é feito lá. O que acontece é que nós, da Microsoft do Brasil, não nos envolvemos nesse processo: damos o "ok" para que o trabalho seja realizado e, basicamente, só vemos o resultado quando ele já está pronto.

Um jogo é traduzido para o português quando a experiência obriga, como no caso de "Viva Piñata", que tem um apelo mais infantil, ou quando os volumes justificam.

"Blue Dragon" não seria um bom jogo para receber legendas ou tradução?

Camargo:
Depende do volume. A questão vai ser analisada ainda.

E "Halo 3"?

Beck:
Aguarde. Ainda tem muito de "Halo 3" por vir.

A linha de jogos a R$ 99 será expandida? Há novos títulos em vista?

Camargo:
Estamos aguardando a coletiva [de imprensa, que será realizada no mês de maio] do "Forza Motorsport 2" para anunciar um pacote de novidade mais completo.

A Microsoft do Brasil já considera uma possibilidade de corte no preço do aparelho ou um novo pacote por um valor mais acessível?

Beck:
Eu vou te falar uma resposta que talvez você não goste, mas o que posso dizer é que a Microsoft está sempre olhando, está sempre procurando alternativas em termos de novidades.

Você enxerga o Wii e o PlayStation 3 como concorrentes do Xbox 360 no Brasil?

Beck:
Com certeza. O Wii, para mim foi uma grande surpresa: talvez não tenha a sofisticação gráfica, mas tem uma coisa bacana, que é o controle. O PlayStation 3 foi muito criticado pela imprensa especializada, mas acho que nem Microsoft, nem Nintendo e nem Sony estão onde estão por terem produtos ruins; são três produtos bons e de empresas muito fortes, que a Microsoft respeita.

No Brasil, estamos em uma posição muito boa: dos três, somos os únicos com a presença do fabricante no país, temos um portfólio de games maior e mais pontos de venda. O que a gente gostaria é que essas empresas viessem efetivamente para o Brasil, a presença de Sony e Nintendo competindo conosco como competem em outros países, porque o mercado de videogames iria crescer como um todo.

E quanto ao Games for Windows e a Live Anywhere? Como o recurso será tratado no Brasil?

Beck:
Como não temos a Xbox Live disponível ainda, ainda não temos nenhuma ação.

Comenta-se muito sobre o defeito das três luzes vermelhas no Xbox 360 e, de fato, algumas pessoas conhecidas nossas tiveram que trocar de aparelho por causa disso. Qual é posição oficial da Microsoft sobre o assunto?

Beck:
O dado que nós temos é que os problemas, estatisticamente, estão de acordo com o volume planejado. Quer dizer, ninguém planeja quebras, mas o número de problemas está sendo considerado normal dentro do índice de produtos desta categoria - de 3 a 5%.

Se você ouve relatos aqui e ali, às vezes isso reverbera pela internet e há um excesso, pois cada um que tem o problema aparece muito mais que os outros 97% ou 98%. Nós cuidamos dos casos que existem, mas hoje não é algo que está em evidência.

Camargo: Se eu não me engano, em nossos "customers services", nós tivemos 17 devoluções, sendo que 15 eram problema com fonte, de gente que liga no 220v. No cenário brasileiro, o índice do problema com as três luzes vermelhas é praticamente zero.

A Wanako, produtora chilena, lançou "3D Minigolf" e "Assault Heroes" na Live Arcade. A presença do Xbox 360 não poderia abrir espaço para as empresas brasileiras?

Beck:
A XNA é uma alternativa oferecida pela Microsoft, além de cursos e outras oportunidades para aqueles que desejam se desenvolver profissionalmente. Fora isso, em relação aos jogos comerciais, falta alguém desenvolver e bater lá na porta, que não é a minha, pois não temos esse setor aqui. Se alguém tiver esse interesse, eu posso tentar arrumar o contato.

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