Sonic and the Secret Rings

da Redação

O ano de 1996 marcou a chegada de um novo paradigma para os games: os gráficos em 3D. A transição do universo das imagens chapadas para a terceira dimensão resultou em uma fase turbulenta para muitas franquias que reinaram nos anos 80 e 90, como "Castlevania" e "Mega Man". Para Sonic, cujo primeiro jogo em 3D trazia muitos problemas de câmera e uma mecânica difícil em relação à de seus jogos para o Mega Drive, a coisa não foi muito diferente.

Com excessão de "Sonic Adventure 2", considerado por muitos um dos melhores jogos do personagem, a série recebeu nos últimos anos dezenas de títulos medianos, que se distanciavam cada vez mais da proposta original da série. Depois da falta de êxito de "Sonic the Hedgehog", para Xbox 360 e Playstation 3, todo o peso da espera pelos fãs por um bom jogo da série para a nova geração de consoles caiu em cima de "Sonic and the Secret Rings". Desta vez, porém, parece que a Sega finalmente acertou.

Velocidade é o que importa

A premissa da versão de "Sonic" para o Wii é praticamente a mesma que fez do porco espinho um ícone nos anos 90, só que trabalhada de uma maneira diferente: uma mistura dos gêneros corrida e plataforma. A mecânica é simples: utilizando o Wii Remote (sem a extensão Nunchuck) na posição horizontal e inclinando-o para os lados, você move Sonic para a esquerda ou direita em caminhos pré-definidos. A aceleração é automática e o percurso, quase que inteiramente linear.

No começo, o novo esquema causa um certo estranhamento, já que, ao contrário dos outros jogos em 3D da série, você não possui liberdade de movimentos para explorar os cenários. Há até mesmo a impressão de que tudo é automático demais e que você não joga, mas assiste a uma animação. Porém, em algumas horas, o jogador descobre uma mecânica versátil e bastante sólida. O sacrifício do controle total do jogador e da possibilidade de exploração permite que as fases fluam sem exigir muita habilidade.

Obviamente, Sonic sabe fazer outras coisas além de correr. Durante um salto, se o personagem estiver próximo a um inimigo, uma chacoalhada no controle o faz atacar. O impacto o lança para o alto novamente, permitindo mais ataques consecutivos. A resposta para o comando de pulo, no entanto, nem sempre é precisa. Sonic também pode andar por caminhos estreitos, pendurar-se em cordas, ser lançado por catapultas, voar em potes com asas e mais - o Wii Remote é utilizado das mais diversas maneiras.

Durante as fases, além de argolas, você deve coletar orbes que preenchem a barra de espírito. Quando cheia, você pode realizar um "Speed Break", uma espécie de turbo que faz Sonic atingir uma supervelocidade e eliminar todos os inimigos que estiverem a sua frente, ou um "Time Break" que, ao contrário, ativa uma câmera lenta.

Soluções novas, problemas antigos

Pela primeira vez na série, "Sonic and the Secret Rings" incorpora elementos de RPG. A cada missão que você cumprir, ganhará pontos de experiência que, quando acumulados, fazem Sonic subir um nível. Em síntese, um nível representa a quantidade de habilidades que podem ser equipadas simultaneamente e o número máximo de argolas que Sonic pode carregar.

No decorrer do jogo, dezenas de "power-ups" são destravados, que melhoram muito a performance do personagem - uma resposta para a aparente fraqueza de Sonic no começo do jogo. Outra novidade muito bem vinda é que, quando atingido por um oponente, Sonic não perde todas suas argolas e sim, uma parte.

Como nos jogos decorrentes de "Sonic Adventure", cada fase possui missões secundárias, além do objetivo principal. No entanto, agora essas missões trazem objetivos variados ou até mesmo minigames, que se passam em determinadas áreas da fase principal, envolvendo caminhos inéditos ou não. Sem dúvida, uma maneira inteligente de aproveitar ao máximo cada cenário, sem muita repetição.

Péssimas soluções de câmera sempre assolaram os jogos em 3D da série, problema este que foi parcialmente resolvido em "Sonic and the Secret Rings". Mesmo em áreas abertas, onde a câmera supostamente não entraria em conflito com objetos do cenário ou paredes, ela age de maneira dura ou tem movimentos abruptos e pouco suaves.

Durante os saltos consecutivos, a coisa é pior: ela treme e perde o foco da ação. Não são problemas que atrapalham o jogador, como acontece em "Sonic The Hedgehog", mas se fossem resolvidos, deixariam o jogo ainda mais polido. Para compensar, há momentos em que a ação é mostrada por ângulos inusitados, de forma dramática, enaltecendo a velocidade e a agilidade do personagem.

Uma viagem pelas Mil e uma Noites

É evidente que "Sonic and the Secret Rings" se trata de um dos jogos mais bonitos do Wii até o momento. Efeitos que muitos achavam que o console da Nintendo era incapaz de fazer, "Sonic" faz com muito esmero, como a distorção causada pelo calor, água realista e mais. Levando em consideração a estrutura faraônica das fases, o nível de detalhamento e o visual único de cada uma, pode-se dizer que, no geral, ele mostra mais em gráficos do que "Sonic the Hedgehog" para PS3 e Xbox 360, o qual pecou pela falta de polimento.

A temática árabe, aliada a uma ótima direção artística, inspirou alguns dos cenários mais criativos e divertidos da série, como desertos, palácios, câmaras de fogo e até mesmo uma cidade em cima de uma espécie de pássaro voador. As animações em 3D recorrentes da série dão lugar à seqüências com belíssimas ilustrações, que contam a história de forma engraçada e bastante inteligente.

Não bastasse o competente modo single-player, a Sonic Team preparou uma modalidade multiplayer baseada em minigames que, sozinha, já podia ser considerada um jogo a parte. São dezenas deles, que utilizam o Wii Remote de forma criativa e divertida e extendem a diversão por muitas horas.

"Sonic and the Secret Rings" dá ao personagem uma nova chance para recuperar o status de ícone que tinha nos anos 90. As mudanças radicais na mecânica de jogo que se mantia intacta desde a chegada da série ao universo 3D, mostram que, finalmente, a Sonic Team aprendeu com seus erros.