Jade Empire

da Redação

A produtora canadense BioWare já tem um respeitável histórico de bons jogos, como "Baldur's Gate", "Neverwinters Nights" e o primeiro "Star Wars: Knights of the Old Republic", considerado um dos melhores jogos de 2003. E seu mais novo jogo, "Jade Empire", herda parte desse legado - mas ao mesmo tempo encara alguns novos desafios.

Os games anteriores da BioWare baseavam-se em mundos previamente construídos, baseados ou em "Dungeon & Dragons" ou na ficção científica do cineasta George Lucas. "Jade Empire" é uma obra original, inspirada livremente na China antiga. Tudo no jogo é absolutamente ficcional, desde os estilos de artes marciais até o vestuário dos personagens.

Do espaço para Oriente

O enredo, ponto importante em um RPG, é interessante, mas um pouco inconsistente, ora manchados com clichês, ora com reviravoltas espetaculares. Apesar disso, o salto é altamente positivo e consegue prender a atenção do jogador. Por mais que haja eventos paralelos no game, os acontecimentos estarão, pelo menos, minimamente ligados entre si. Trata-se de uma aproximação diferente da maioria dos RPG japoneses, que mais parecem filmes intercalados com batalhas.

Em "Jade Empire" o jogador vive um aprendiz de artes marciais, e mora numa vila com outros alunos. Ali, busca o aperfeiçoamento espiritual, tal e qual em um Templo Shaolin. Como de costume, o cenário inicial servirá para o jogador se entender com os controles e o sistema de jogo. Muitos colegas podem querer lutar com seu personagem e o game aproveita para passar um tutorial amplo das funções de luta. Os cenários guardam livros, baús e outros objetos.

As falas são bastante interativas, permitindo escolher diversas opções. Nessas primeiras conversas o jogador poderá tentar conhecer cada um dos moradores, além de saber mais sobre o passado do protagonista e de seu mestre, Li. A função de mapa é outro traço deste game bastante amigável. Além da geografia completa do local, ícones fornecem informações como pontos interessantes, lojas e locais importantes, geralmente um personagem que faz avançar no roteiro ou que contenham objetivos alternativos.

Lutadores da antiga China

O esquema básico do game é importando diretamente de "Knights of the Old Republic", porém mais simplificados. Os personagens possuem apenas três parâmetros principais, que são o vigor físico, o chi (energia espiritual) e o foco, necessário para algumas técnicas. Ao subir o nível, o jogador pode atribuir pontos para cada um dos quesitos.

Existe também um medidor especial que indica a índole do lutador, não fugindo muito da tradição Jedi de "Knights of the Old Republic". Muitas situações poderão exigir uma escolha e dependendo da opção o seu personagem pode pender para o bem ou para o mal. O medidor define os eventos e estilos de luta que o jogador terá acesso. Muitos eventos podem ser desencadeados dependendo do rumo que a conversa tomar. Algumas vezes, será necessário usar táticas diferentes para se conseguir o que quer. As técnicas incluem intimidação, intuição ou charme, e o sucesso depende dos parâmetros associados a esses quesitos.

Nem precisa de Sun Tzu

As batalhas são a principal diferença entre "Knights of the Old Republic" e "Jade Empire". Os combates deste são baseados em ação, que pode ser descrita como uma versão simplificada do sistema de "Fable". Nas lutas, o jogador marca um dos inimigos e tem a opção de usar golpes normais, que podem ser encadeados, formando combos; golpes fortes, mas lentos, que quebram a defesa; e um ataque de grande abrangência para escapar dos perigos. Outros movimentos incluem defender-se, fazer desvios rápidos, usar o chi para acumular força ou recuperar energia, ou acionar o foco para aumentar a eficiência. Também, há combos ligando golpes de diferentes estilos.

O problema é que virtualmente quase todos os inimigos podem ser destruídos com uma única estratégia, que é tentar fazer o combo e, se for defendido, usar os golpes fortes. Se, ocasionalmente, for atingido basta se afastar um pouco, recuperar a energia e recomeçar o ataque. O único trabalho é escolher um estilo de luta, que pode ser trocado a qualquer hora, que consiga afetar o oponente. Estilos com armas são demasiadamente poderosos - gastam energia de foco -, mas não afetam fantasmas, por exemplo. O seu lutador pode recrutar diversos seguidores durante a aventura, mas a quase todo o trabalho será mesmo feito pelo jogador.

Os conceitos de armas e magias estão todos incluídos nos estilos de luta. São cinco categorias básicas, que incluem combates corpo-a-corpo, estilos com armas ou escolas de magias. Cada um deles podem ser melhorados em três quesitos e em cinco níveis; os pontos são conferidos quando o personagem ganha nível. Quando todas as melhoras forem realizadas, o lutador se torna um mestre deste estilo. Itens estão reduzidos a amuletos que modificam as estatísticas do avatar. O título conta com alguns mini-games simples, com um quê de saudosismo.

Resolvendo no bate-papo

A produção visual é altamente competente, com cenários bastante ricos e diversificados, apesar de não muito extensos. A riqueza de detalhes se verifica na exuberância da vegetação - muitas flores e folhas - e em alguns esporádicos animais, como macacos e bovinos que dão mais vida aos cenários. Algumas árvores são meio grotescas, mas não tiram o brilho da equipe artística da BioWare. Os personagens são igualmente detalhados e o trabalho de luz também merece palmas.

Mas, infelizmente, há um preço a pagar com essa complexidade. Isso se verifica no alto poder de processamento exigido, com uma taxa de quadros bastante instável. A fluência das lutas está diretamente ligada a quantidade de inimigos que aparecem ao mesmo tempo. E os carregamentos se mostram um pouco lentos para os padrões do Xbox. Uma tecnologia de carga dinâmica teria ajudado a melhorar a experiência do game.

No departamento sonoro, "Jade Empire" também não decepciona. A trilha sonora é previsível, ainda que de boa qualidade. Mas são as dublagens que merecem destaque. Os diálogos de maior importância (que não são poucos) são todos falados, com ótima interpretação para quase todos os personagens. Foi necessário até inventar uma língua para tentar economizar dublagens. Os personagens que falam esse dialeto murmuram algumas frases básicas e o conteúdo da mensagem aparece em legendas (outro traço que remete a "Old Republic").

Pedra semi-preciosa

"Jade Empire" parece ser a tentativa de aliciar novos jogadores para o gênero RPG. Muitos dos sistemas de "Knights of the Old Republic" foram simplificados para maior aceitação dos novatos. As batalhas também são bastante fáceis, mesmo no nível de dificuldade padrão, e a duração chega a ser pífia para um RPG, cerca de 20 horas.