A Konami não para de surpreender. Negativamente. E justamente quando os fãs da série "Castlevania" previam uma luz no fim do túnel, eis que a expectativa cai por terra.
Anunciado como o retorno da série Castlevania ao bom e sempre atual gênero de plataforma 2D, "Castlevania: Harmony of Despair" prometia trazer de volta à atual geração a exploração e o encanto do aclamado "Symphony of the Night", mas a Konami decidiu inovar e acabou com todas as idéias interessantes que o jogo prometia.
No papel, é perfeito: plataformas em 2D, mapas gigantes dos castelos, exploração no estilo "Metroid", personagens famosos de jogos do passado à sua disposição com sprites refeitos em alta definição e seis jogadores simultâneos na tela. Na prática, este "Castlevania" é um título raso e com diversas idéias interessantes que não foram bem executadas.
O jogo já começa confuso. Apesar de contar com o retorno de Alucard e de mais cinco personagens de jogos anteriores da série, não há uma explicação de como eles se encontraram. Aliás, não há sequer uma história que explique o que está havendo e nenhum dos cenários possui qualquer tipo de ligação. O objetivo é simples: encontrar a saída do labirinto e matar o chefe final, localizado geralmente no topo do castelo. No final das contas, é apenas um jogo casual, sem trama, cujo único objetivo é divertir sem complicar.
A tentativa, porém, é em vão. Não bastasse a falta de uma razão para lutar, a mecânica do jogo não flui bem. A dificuldade é mal nivelada, ora muito fácil, ora extremamente difícil. Quem conhece a série certamente saberá as melhores táticas para destruir determinados inimigos, mas em certos trechos a quantidade de inimigos se torna incompatível com o número de jogadores ativos. Os controles são os mesmos dos demais títulos da série, mas o estilo arcade fica ainda mais explicito pela falta de opções de melhorias do seu personagem, que se limita a um nada intuitivo menu de troca de armas.
A diversão no modo multiplayer está em unir forças e se dividir pelo castelo em busca dos melhores itens. Para quem pretende jogar sozinho, um alerta: o desafio exagerado no modo solo de "Castlevania: Harmony of Despair" é um convite à irritação.
Reciclar nem sempre é bomA produção de "Castlevania: Harmony of Despair" não passa a impressão de ter sido trabalhosa. Muito pelo contrário. Todos os personagens foram retirados de jogos anteriores da série. Soma Cruz, por exemplo, vem de "Dawn of Sorrow" para Nintendo DS e Alucard de "Castlevania: Symphony of the Night" para PlayStation. Ambos porém, tiveram seus sprites transportados diretamente para o jogo e reutilizados com um leve filtro para maquiar o serrilhado.
Todo o restante é reciclado literalmente de títulos anteriores, desde os seis cenários, com seus elementos artísticos, os inimigos e itens, com direito até ao serrilhado contido de seus jogos originais. Sim, há itens extraídos dos jogos do DS em baixa resolução estourando na tela, que deveria ser em alta definição.
A falta de esmero em atualizar devidamente os sprites para a tecnologia atual poderia parecer uma desculpa da Konami para não deixar o jogo carregado quando a câmera é aberta na visualização total do cenário, mas os efeitos tridimensionais de luz, sombra e nuvens ao fundo da paisagem são tão serrilhados que transmitem a impressão de que o jogo não rola em um Xbox 360, mas em um hardware mais limitado.
Se a experiência não é das melhores para quem joga numa TV de alta definição, fica ainda pior para quem joga em televisores de tubo de até 29 polegadas. Os personagens e inimigos são tão minúsculos que é praticamente impossível enxergar certos itens e inimigos, como o anão Fleaman.
CONSIDERAÇÕES
"Castlevania: Harmony of Despair" desaponta os fãs da franquia por esquecer suas raízes e oferecer apenas um jogo sem nexo ou trama definida. Não bastasse a falta de capricho, o jogo carece de personalidade própria, não conseguindo se aprofundar nem no estilo arcade, mais casual, e nem no RPG. Pode até divertir, mas somente aos jogadores dispostos a esquecer o passado glorioso da franquia.