Noby Noby Boy

CLAUDIO PRANDONI
Colaboração para o UOL

O diretor Keita Takahashi é uma das figuras mais insólitas e únicas da indústria dos jogos eletrônicos. Arrogante, polêmico e criativo, tem como única e brilhante estrela no currículo a série "Katamari Damacy", da qual efetivamente só dirigiu os dois primeiros episódios, deixando os demais por conta da própria Bandai-Namco.

Após muito tempo quieto, cuidando apenas de um projeto e sem declarações picantes, o game designer coloca no mercado "Noby Noby Boy", título exclusivo de PlayStation 3 que é tão ou mais bizarro do que "Katamari Damacy" ou o próprio Keita Takahashi.

Brinquedo excêntrico

Antes de mais nada: "Noby Noby Boy" não é um jogo e sim um brinquedo virtual. O título até apresenta um objetivo, mas é mais uma possibilidade do que exatamente uma meta, um desafio obrigatório que o jogador deve vencer para chegar ao final. Da mesma forma, "Noby Noby Boy" não possui exatamente um fim.

Você controla Boy, uma minhoca que estica e puxa ao seu bel prazer. A parte da frente do bichinho é controlada pela alavanca analógica da esquerda, ao passo que a da direita controla a parte traseira da criatura. Pelos cenários reina a aleatoriedade e bizarrice. Todos são gerados ao acaso e a cada nova partida surpresas inéditas aparecem. Casas, carros, bicicletas, laranjas, maçãs, vacas, diabinhos, pessoas assustadas, árvores, alienígenas, dados, roletas e por aí vai. De tudo um pouco e tudo junto.

Boy pode engolir boa parte desses objetos o que faz com que ele ganhe volume e assim possa esticar mais. Depois de tanto alongamento, é possível se reportar a Girl, uma minhoca gigante mocinha que paira incólume no espaço sideral. De acordo com seu progresso, ela estica na mesma medida, alcançando assim as últimas fronteiras galácticas.

Entra em cena um cativante aspecto colaborativo de "Noby Noby Boy": a comunidade online. Cada jogador do mundo é um Boy, mas só há uma Girl, ou seja, todos se reportam à mesma criatura que assim estica milhares de dezenas de metros por dia. Além da satisfação questionável de trabalho em equipe, esse trabalho todo rende novas fases, já que assim que Girl alcança outros corpos celestes e planetas - como a Lua e Marte - é possível visitá-los, o que ocasiona cenários ainda mais malucos.

O visual incorpora a identidade simplista tão marcante de "Katamari Damacy", privilegiando formas simplórias e texturas coloridas e chapadas. O que se esforça mais para justificar o poderio do PlayStation 3 é a física realista vigente. Conforme Boy se estica o corpo ondula e balança de acordo com os solavancos e empurrões que sofre. Igualmente, os objetos das fases caem, rolam, voam e reagem de forma bem real.

Já a trilha deixa de lado a bizarrice e variedade rítmica de "Katamari", optando por acompanhamentos tranquilos e singelos, pontuados pelos efeitos sonoros cômicos dos monstros, bichos, pessoas e coisas que habitam as fases.

"Noby Noby Boy" apresenta outros apostas sutis, porém certeiras, em termos de ferramentas para comunidade. É possível mandar mensagens para seus amigos pelo game, sendo que tais palavras aparecem no corpo do próprio Boy. Além disso, o título possibilita também gravar vídeos e enviá-los diretamente ao YouTube, por meio do próprio PlayStation 3. Simples, mas faz você pensar por que motivo outros jogos não permitem isso.