GTR 2

da Redação

Até a chegada - um tanto descompromissada, aliás - de "GTR", os fanáticos por simuladores de automobilismo que jogam somente no PC eram obrigados a babar pelos jogos "alheios", como "Ridge Racer", "Gran Turismo" e "Forza Motorsport", todos exclusivos para consoles. A série ainda passeou pelas décadas de 50, 60 e 70 com "GT Legends", que consagrou definitivamente a SimBin e a 10tacle Studios.

Por essa razão, "GTR 2" chega com uma responsabilidade razoável nas costas, afinal, não se trata mais de um mero desconhecido. Felizmente, no entanto, as produtoras não negaram fogo e conseguiram criar uma seqüência capaz de agradar os mais experientes e atrair aqueles que ainda não tiveram contato algum com a série, embora algumas imperfeições técnicas, em especial de otimização, ainda persistam.

Auto-escola

Logo de cara, fica evidente a melhor novidade de "GTR 2": é o modo Driving School, que funciona como uma espécie de "auto-escola", ensinando técnicas de direção, divididas em várias categorias, como aceleração, frenagem e curva. São várias lições, com dificuldade crescente e que, além de familiarizar o jogador com o game, destravam novos campeonatos, no modo Custom Championships, conforme são cumpridas.

A parte mais interessante é que o Driving School é mais profundo do que parece: cada tópico é explicado detalhadamente, em forma de "briefing", mostrando a parte teórica da lição que vem a seguir. É possível ainda ver uma demonstração de como executar a lição e até treinar, descompromissadamente, antes de partir para a avaliação, na tentativa de obter as engrenagens douradas que desbloqueiam as competições.

Uma vez à parte dos conceitos básicos, o jogador pode partir para treinar nas pistas do game, escolhendo o carro e ajustando o mesmo, uma oportunidade muito didática para se acostumar às curvas e conhecer o traçado em detalhes. De quebra, o modo ainda explica as regras das provas, o significado das bandeiras e por aí vai. Para completar, o tutorial inclui ainda um tópico somente para os auxílios à pilotagem, tão importantes em simuladores realistas como "GTR 2".

O principal mérito do Driving School é oferecer aos iniciantes tudo o que eles precisam para não "apanhar" do jogo, mas sem aquele clima enfadonho ou impositivo de alguns tutoriais de jogo do gênero. Para os experts no volante, o estímulo é justamente destravar o conteúdo extra, mas como jogar a modalidade não obrigatório, em último caso basta seguir em frente.

Um dia correndo

"GTR 2" também vai além do habitual quando entram em cenas as modalidades jogo. Até mesmo as tradicionais, como a Time Trial, têm extras interessantes - embora não sejam necessariamente uma novidade -, como o "carro fantasma" ("ghost car") e o traçado que indica qual o caminho ideal para a pista em questão, mudando de cor quando uma curva se aproxima. O recurso, porém, é meio fajuto, já que às vezes ganham-se alguns décimos de segundo preciosos ao burlar o traçado.

Race Weekend, por sua vez, é uma corrida individual que passa por duas voltas de treino, duas qualificatórias, uma de aquecimento e, finalmente, a prova. Variáveis como circuito, carro e clima podem ser ajustadas à vontade, sendo possível até mesmo deixar as voltas de lado e partir direto para a corrida.

Os campeonatos oficiais disponíveis desde o início são as temporadas de 2003 e 2004 da FIA-GT. No menu Custom Championships, entram os torneios desbloqueados com os progressos na escola de direção. No multiplayer, que funciona por rede local e internet para até 28 participantes, as configurações padrão são referentes às temporadas dos dois anos.

Finalmente, há a 24 Hours que, como o próprio nome sugere, testa as habilidades e resistência do jogador em corridas que duram exatas 24 horas. São seis pistas disponíveis nessa modalidade e, obviamente, é possível salvar seus progressos para continuar em outra hora. Mesmo assim, o desafio é extremo, principalmente para lidar com as mudanças realistas dos ciclos entre dia e noite, o desgaste dos carros e, claro, a inteligência artificial esperta e agressiva dos adversários.

Por falar em desafio, são três os níveis de dificuldade: novice, semi-pro e simulation. O que determina a diferença entre um e outro são as ajudas de pilotagem ativadas. O modo Simulation é, sem dúvidas, a experiência mais próxima que se pode ter de uma corrida real, e tudo está nas mãos do jogador, que não conta com auxílio algum. Ao mesmo tempo em que é difícil manter o carro na pista, competindo pelos primeiros lugares, é altamente compensador para os pilotos avançados e experientes.

Mais real, impossível

O nível de realismo do jogo é realmente notável. Ao todo, são 144 carros, divididos em quatro categorias: GT, nGT, G2 e G3. Cada um dos veículos, além de cockpits extremamente fiéis, reage às mudanças efetuadas em suas configurações. Por isso, é sempre possível "tirar" um pouquinho mais do desempenho do automóvel, de acordo com a pista e com as condições do tempo.

Quanto às 19 pistas de "GTR 2" - cinco delas inéditas (Dubai, Hockenheim, Imola, Valença e Zhuhai -, vale destacar que foram criadas com auxílio de GPS, o que garante que cada imperfeição no asfalto, por exemplo, também apareça na tela. Além disso, o dispositivo Live Track funciona bem, reproduzindo em tempo real as mudanças que a freqüente passagem dos carros faz no asfalto, devido à sujeira, atrito, acúmulo de borracha nas frenagens etc.

Tecnicamente, "GTR 2" apresenta melhoras e pioras. A pior parte ficou com o visual, que embora seja dos mais respeitáveis, ainda sim não faz jus ao conjunto da obra. Pelos requisitos mínimos exigidos, os gráficos poderiam ser bem melhores e arrojados, mas a impressão é de poucas mudanças quando comparado a "GT Legends".

De qualquer forma, tanto as pistas quanto os carros estão reproduzidos de maneira adequada, mas, mesmo com um PC dentro da configuração recomendada, não há melhoras significativas e, para completar, até mesmo as telas de carregamento e a taxa de quadros por segundo não se alteram tanto, provando que o game merece uma otimização mais caprichada.

Por outro lado, "GTR 2" é amigável até mesmo para aqueles que gostam de jogar no teclado (ou simplesmente não dispõem de um volante), algo que nem sempre acontece com games de corrida. Essa é a parte boa das melhorias técnicas e que comprova, de uma vez por todas, que o game é a oportunidade ideal para os principiantes conhecerem a série.

A trilha sonora, comandada pelo ronco dos motores, ruídos das derrapagens etc., é o ingrediente final para envolver o jogador na experiência de simulação - ouvidos mais atentos perceberão as nuances nos roncos da aceleração, dependendo não somente do modelo de carro, mas das alterações executadas nele.

Total Flex

"GTR 2" consegue o feito de atrair os novatos e, ao mesmo tempo, não deixar de afagar os fanáticos pela simulação, que normalmente torcem o nariz quando os jogos "facilitam" a vida de quem não está muito habituado aos games. A verdade é que, mesmo sendo uma continuação, o jogo tem uma vida própria incomum, o que não é fácil de se ver hoje em dia. Até aqueles que nem conheceram a primeira versão podem ignorar o fato e estrear com o pé direito.