Poucos jogos até hoje conseguiram transponir a barreira sensorial, oferecendo uma experiência sinestésica e envolvente ao mesmo tempo que traz o elemento básico do vídeogame: diversão. "Rez" é exatamente isso. Sua mistura inteligente de cores, formas, luzes, sons, música e signos leva o jogador a uma das mais intensas experiências audiovisuais já proporcionada pelos videogames.
Apesar de ser um clássico do começo da década e um marco no gênero do jogos musicais, "Rez" não foi um sucesso comercial. Por outro lado, seu status "cult" fez com que ele fosse constantemente lembrado e não se reduzisse a uma obra-prima oculta. Era só uma questão de tempo para que uma nova versão chegasse à rede online do Xbox 360, tamanha a pressão dos entusiastas e da mídia especializada.
A espera foi longa mas, finalmente, a obra alcançou sua plenitude. "Rez HD" traz exatamente o mesmo conteúdo do original, porém com visual em alta definição e audio em qualidade 5.1 - exatamente como seu criador, Tetsuya Mizuguchi (responsável também por outros jogos geniais como Lumines e Space Channel 5) o idealizou. E o melhor: não custa mais que US$10.
O poder do jogoDiferentemente do cinema ou da literatura, os games tornam-se obsoletos com mais rapidez, devido sua inerência à tecnologia e a computação gráfica, que avançam anualmente a passos de gigante. Três ou quatro anos, em média, são suficientes para que um jogo deixe de ser graficamente atraente pois, graças a esses avanços, ficamos cada vez mais exigentes.
Porém, quando um jogo segue o caminho inverso à tendência da indústria, optando pela simplicidade em vez do detalhamento, pela estilização em vez do realismo, ele adquire uma estética única, párea para a obsolência. Não é a toa que com "Rez HD" você terá a impressão de estar jogando um título completamente novo, e não uma versão melhorada de um jogo de 2001.
Em "Rez HD" você controla o avatar de um hacker durante sua invasão a uma complexa rede de supercomputadores. Após acumular uma imensa quantidade de informações, a inteligência artificial central passa a questionar sua existência e dá início a uma seqüência de desativação. Seu objetivo é ultrapassar todas as barreiras de segurança e impedir a destruição do sistema. A história, no entanto, é apenas um pano de fundo para a ação do jogo, pois não é contada na forma de animações, mas sim através de mensagens e signos, permitindo que jogador a interprete à sua própria maneira.
A mecânica em si é bastante simples: como em "Panzer Dragoon", você controla apenas a mira de seu avatar, enquanto ele navega automaticamente pelos cenários pré-definidos. Mantendo o botão "A" com a mira em cima do inimigo, você faz dele um alvo, o que pode ser feito com até oito inimigos de uma só vez, garantindo assim mais pontos nos modos mais avançados de jogo.
Uma experiência audiovisualA grande sacada está na sincronização da ação com a melodia. Todos os elementos visuais presentes na tela (inimigos, efeitos visuais, cenário etc.) estão em compasso com a música, que conseqüentemente rege toda a ação. Cada sub-nível da fase adiciona um novo canal de som à música, como uma nova batida, ruído ou instrumento. Quanto mais agitada, mais rico o cenário vai se tornando e mais intensidade vai ganhando a ação.
As batidas de diferentes intensidades também são sentidas pelo jogador através do controle, que vibra em total sincronia com a música. Aliás, em "Rez HD" é possível habilitar um segundo, terceirou ou até mesmo quarto controle do Xbox 360 e anexá-los ao seu próprio corpo, permitindo um nível de imersão ainda maior.
Cada uma das cinco fases principais é inspirada em uma civilização antiga, como o Egito, com suas pirâmides e esfinges ou a China e suas estruturas monumentais - tudo representado de maneira abstrata e geométrica. Texturas são raras, pois muito do visual do jogo é baseado em "wireframes" (aquele visual poligonal de desenhos em 3D inacabados), remetendo ao universo futurístico e computacional do jogo. Os chefes são um show à parte e resumem alguns dos melhores momentos do jogo, tamanha a originalidade dos confrontos, criatividade do design e empolgação transmitida pela música e ação.
Ainda que seja possível rotacionar a câmera em volta do personagem para observar o cenário, o jogo não permite que você navegue livremente pelo espaço. As fases são completamente lineares e após boas doses de jogatina, você saberá exatamente onde aparecerão os inimigos, tornando as coisas um pouco repetitivas. Além disso, trata-se de um jogo curto: com exata uma hora de duração, é possível terminar o modo principal.
Contudo, como no original, "Rez HD" traz uma grande variedade de opções de jogo e modalidades destrancáveis, que permitem personalizar as partidas e estendem a experiência por dezenas de horas - desde que você não se importe em jogar a mesma fase repetidamente para conseguir novos pontos.
Para quem gosta de música eletrônica, "Rez HD" é simplesmente obrigatório. Sua trilha sonora, além de ser incrivelmente bem trabalhada, foi fortemente influenciada por bandas como Underworld (que inclusive inspirou o próprio nome do jogo), e Kraftwerk, uma das pioneiras da música eletrônica. A qualidade do som está melhor do que nunca, e com a distribuição dos efeitos sonoros entre as caixas de som, a experiência se torna ainda mais prazerosa.
CONSIDERAÇÕES
Ação e música são um só em "Rez HD", uma viagem intensa cheia de êxtase, abstracionismo e música eletrônica. A experiência proporcionada pelo jogo de Tetsuya Mizuguchi, criador de "Lumines" e "Space Channel 5", continua tão intensa quanto era seis anos atrás. É uma das maiores obras-primas dos jogos musicais em sua total plenitude, com qualidades visual e sonora elevadas ao máximo. Se você gosta de música eletrônica, aprecia o poder da linguagem jogos ou simplesmente sempre teve curiosidade de conhecer o jogo, "Rez HD" é indispensável.